Mais uma vez por cortesia da Motocar e depois de deixar a T700 para mudar de calçado, tive acesso a uma mota que não fazendo o meu género, reconheço que até tem um “look” engraçado. Isto é, um aspecto retro a fazer relembrar uma “Scrambler”.
Julgo que este modelo saiu em 2017 e que foi descontinuado em 2020 por causa das normas europeias antipoluição (o famoso Euro 5).
Alguns dados interessantes a relevar sobre esta mota são, para mim, a transmissão feita por correia, um motor bicilíndrico em V de 950 cm3 refrigerado ar com 53 HP, o que lhe confere uma característica de tractor pois “aguenta com tudo” a baixa velocidade, a altura da mota que é extraordinariamente baixa e uns amortecedores atrás a fazer relembrar o antigamente.
Um pormenor interessante foi quando fui meter gasolina. Como quando me entregaram a mota a mesma já estava a trabalhar, arranquei sem sequer pensar onde era a ignição. Chegado à estação de serviço, parei a mota e andei a coçar a cabeça durante uns minutos para encontrar a chave, quer para desligar a mota quer para poder abrir o tampão de gasolina. Estive quase para telefonar para a Motocar para perguntar se a mota era “Key Less”…felizmente lá consegui descobrir, sem ter de passar por tótó, que a ignição se encontra por baixo do volante no lado direito, digamos que num local não muito óbvio.
Seria mota para mim? Não certamente que não, mas reconheço que todos nós temos gostos e opiniões diferentes e que são todos estes gostos e opiniões são respeitáveis neste mundo das motas.
Mas vamos ao que senti nos cerca de 100 km que fiz com esta SCR 950.
– Estética
Esteticamente é uma mota que até está bem conseguida e que não passa despercebida ao olhar de quem se cruza connosco. Bem pelo contrário.
– Sonoridade
O som do motor abafado até se torna interessante quando circulamos. Não é muito alto nem é muito baixo. Está lá quanto baste.
– Conforto
Quanto ao conforto desta SCR 950 tenho algumas dúvidas que se possam fazer muitos km seguidos sem, pelo menos, uma alteração substancial do banco, se é que lhe podemos chamar aquilo banco, pois mais parece uma tábua de madeira. Contudo, ainda assim, tenho que reconhecer que em estrada de alcatrão bem liso até conseguimos curtir a mota em velocidade baixa e ir desfrutando da paisagem que se vai desenrolando em nosso redor. Em paralelo, ou numa estrada de alcatrão mais destruída, pela falta de manutenção, a SCR 950 torna-se numa “verdadeira” mota de aventura pois mais parece que estamos a fazer um qualquer “off road” numa trilha já mais técnica, tais são os solavancos que nos obrigam a conduzir em pé para não levarmos pancada nas costas.
A caixa de filtro de ar está colocada numa posição no lado direito da mota que é, no mínimo, irritante. Pelo menos para mim. Pois foi uma luta constante entre a caixa e a minha perna direita.
Outro ponto também menos bom é quando paramos a mota e não termos o cuidado com os pedais (pousa pés). Se deixarmos descair a mota, por muito pouco que seja, levamos coça nas canelas.
– Será uma Scrambler?
Tudo o que li sobre o que deve ser um “Scrambler” não me parece que tenha sentido verdadeiramente neste conjunto, pois a ideia que tenho é que são motas altas próprias para atravessar obstáculos. Não é o caso, pois a mota é extraordinariamente baixa. Que possuem um motor nervoso o que também não é de longe nem de perto o caso pois é um verdadeiro tractor. Que são motas bastante ágeis e até leves o que verdadeiramente também não é o caso pois é uma mota que pesa 252 kg (a seco). Que vêm equipadas com boas suspensões quer na frente quer atrás, o que também não é o caso pois na traseira vem equipada naquilo a que chamaria de um conjunto de molas.
– Para que serve?
Ainda ontem alguém escreveu (já procurei quem foi mas não consigo encontrar) sobre um post que coloquei no “face” sobre esta mota, que a SCR 950 é tipicamente um conjunto para passear calmamente ao longo da nossa costa marítima e ir fluindo sem pressas e a conversar com a pendura. Acrescento num dia de calor quanto baste e de capacete aberto.
– Ciclística
Surpreendentemente esta SCR 950 curva muito bem (cuidado apenas para não deitar muito a mota pois raspa por todos os lados) em piso bom como é óbvio, pois em paralelo nem ousei arriscar.
Em termos de travagem também não senti nenhum stress em piso bom, no entanto em piso mais degradado, como a minha preocupação era que a mota não saltasse muito (lembram-se das molas que falei) também não senti necessidade de grandes travagens dada a baixa velocidade a que me deslocava neste tipo de piso.
– Motor
Não é nenhum “must” mas para o que foi pensada, julgo eu, para uma mota com “look” Scrambler e utilização mais citadina com algumas incursões em passeios não muito longos, tem a potência que baste. Como possui um motor bastante redondo quando rolamos o punho até parece que estamos perante um “monstrinho”. O torque em baixa rotação é mesmo muito bom.
A pergunta é compravas? Não, certamente que não, mas não deixo de reconhecer que é uma mota interessante apesar de tudo. Com muita personalidade conferida pelo seu look retro, com um bom motor para passeios curtos e a baixa velocidade, com um roncar abafado atraente e sem ser minimamente desagradável.
Se isto pretenderia ser uma Scrambler, e tivesse aquelas características que outras marcas têm colocado sobre os seus modelos, será que eu compraria uma mota com este “estilo”? Não, de forma alguma.
Uma vez mais obrigado à Motocar e ao José Pedro Carvalho por ter disponibilizado uma mota enquanto a minha T7 calçava novos sapatos.
[zombify_post]