Lés a Lés 1999 – A minha experiência em 05.07.2018

Em 2018 participei pela primeira vez num Lés a Lés (on Road) que coincidiu com a sua 20ª edição. Organizado pela Motocar lá fomos nós, 14 amigos do grupo dos Zés a Lés:

Alexandre Vilaça, César Vieira, Cosme Sousa, Domingos Pinto, Filipe Gomes, João Almeida, José Fernando, José Pedro Carvalho, Miguel Alves, Paulo Casais, Ricardo Romano, Rui Almeida e Tiago Mendes.

Confesso que gostei do modelo. Durante o evento dei comigo a pensar várias vezes que seria muito bom fazer a solo os Lés a Lés de anos anteriores. Fiquei de tal forma obcecado com a ideia que chegado a casa, depois desta participação, andei a pesquisar na Net se conseguiria arranjar os “road book” do Lés a Lés de anos anteriores. Tanto procurei que lá consegui arranjar. 

Em finais de Junho recebi a MT09 SP (Mota fantástica) pelo que decidi logo por essa altura percorrer os mesmos caminhos que foram percorridos no 1º Lés a Lés, realizado em 1999, com início em Rio de Onor e final em Cabo de S. Vicente. Destaco que em 1999, este Lés a Lés, foi realizado num só dia.

Ao preparar esta jornada também a quis fazer apenas num dia, no entanto ao planear a mesma dividi-a em 4 etapas, que coincidiriam com os reabastecimentos da mota e com as divisões feitas pela organização na altura.

Como saí do Porto tive que o fazer bem cedo para chegar a Rio de Onor a uma hora mais ou menos decente. Cheguei às 10h30m em ponto, fotos da praxe e toca a arrancar para a 1ª secção.

De Rio de Onor a Celorico da Beira

Que maravilha. A selecção de estradas feita pela organização foi perfeita, quer pela muita curva que me convidou a raspar pedais quer pelas magníficas paisagens de cortar a respiração.

Aquela estrada (N221) que nos leva de Freixo de Espada à Cinta até Barca Dalva é divinal em todos os sentidos. Recordo como se fosse hoje que mudei o chip, entrei em modo race e testei os meus limites e da mota em curva. Grande mota. Quando cheguei cá em baixo a minha vontade foi repetir mas como o tempo estava contado para atingir o objectivo tive que abandonar a ideia e prosseguir.


As condições metereológicas estiveram do meu lado. Tive um dia limpo e bem azul mas, felizmente, não se fez sentir um calor muito intenso.

Chegado a Barca Dalva, ainda com a adrenalina em alta, aproveitei para registar o local em fotografia, fazer uma refeição ligeira e rápida, seguindo caminho em direcção ao primeiro destino. Parei ainda algumas vezes para registos de fotografia, mas comecei a perceber que o tempo estava a ficar mesmo no limite.

Cheguei a Celorico da Beira por volta das 14h00m tendo aproveitado agora para, tal como planeado, reabastecer a mota. Aproveitei ainda para passar no Solar do Queijo para aí “descansar” alguns minutos.

Tempo de iniciar a 2ª secção

De Celorico da Beira até ao Centro Geodésico de Portugal

Para trás ficam estradas e paisagens brutais pelo que quando iniciei esta 2ª secção estava curioso se poderia ser melhor. A expectativa não saiu defraudada, mas longe de ser comparável com a 1ª secção.

Talvez seja um problema meu que embirro com esta zona de Portugal. Não aprecio mesmo nada passar por longas extensões de eucaliptal. Não gosto da zona por ser duramente fustigada por incêndios ao longo dos anos, causando um impacto visual de destruição e desespero para muitas famílias que vêem o seu sustento desaparecer em poucas horas ou dias.

Tudo corria pelo melhor até que comecei a sentir o punho do acelerador a descolar. Andei penosamente muitos km nesta situação antes de chegar a Góis. Foi um verdadeiro suplício pois de vez em quando nem sequer conseguia acelerar…e em serra e a subir nem queiram imaginar!

Perdi com esta situação cerca de 2h30m que bem falta me fizeram. Fui directo ao concessionário da Kawasaki de Góis, que foi impecável, e lá me colou o maldito punho do acelerador para que pudesse prosseguir com o objectivo a que me tinha proposto.

Estando mais ou menos a meio de Portugal recordo-me que comecei a ficar apreensivo. Será que vou conseguir? Ou será que vou conseguir, mas já a altas horas da madrugada do dia seguinte?

Chegado ao Centro Geodésico, que por acaso nunca tinha lá estado na minha vida, tiradas umas fotografias para mais tarde recordar, lá arranquei novamente em direcção à 3ª secção.

Do Centro Geodésico de Portugal até Viana do Alentejo.

Arranquei por volta das 18h45m e logo percebi que não iria conseguir terminar em Sagres no mesmo dia, tal como o fizeram os heróis de 1999 na primeira edição do Lés a Lés. Fiquei mesmo irritado tendo a mota e pneus sentido a minha irritação daí para a frente.

Para além da história com o punho me ter atrasado imenso, reconheço que fiz demasiadas paragens, na fase inicial, para registos fotográficos. Para além daqueles dois factores também reconheço que deveria ter começado mais cedo este Lés a Lés e não às 10h30m. Enfim excesso de confiança e muito amadorismo ainda da minha parte.

Voltando ao trajecto. Este voltou a tornar-se muito interessante com boa estrada e paisagem a condizer. Lembro-me como se fosse hoje que a minha irritação foi-se esvanecendo à medida que avançava pela estrada. Destaco o pôr do sol a tomar conta da paisagem com uma força indescritível.

Acabei por me conformar e agora restava-me um lugar para dormir. Comecei a fazer telefonemas para hóteis ao redor do destino, Viana do Alentejo, e o mais próximo que consegui foi em Évora. Era Julho, estava tudo “cheio” pelo que lá teve que ser.

Não só não consegui fazer o que quis como também quis o destino não me deixar sequer chegar ao final desta 3ª secção. Que frustação.

Ao percorrer Évora em direcção ao hotel, que entretanto tinha reservado, passei por uma rua onde tive um episódio no Lés a Lés de 2018, um mês antes, em que o Tiago Mendes foi abalroado por mim quando aguardava pacificamente que a mota da frente arrancasse. O resultado foi, como é óbvio, queda para os dois e não fossem os irmãos Rui Almeida e João Almeida (qual equipa de assistência rápida) a resolver prontamente o problema e o Tiago Mendes, por minha culpa, viria o resto de Lés a Lés a segurar a viseira da Super Tenéré o resto do caminho.

Apesar de tudo foi uma noite bem dormida, num excelente hotel com um pequeno-almoço divinal.

Eram 07h00 quando arranquei para Viana do Alentejo para dar início à 4ª e última secção deste Lés a Lés.

De Viana do Alentejo a Sagres

Com uma manhã lindíssima mas já com uma temperatura que dava para adivinhar que iria ser bem alta, lá arranquei de Viana do Alentejo por volta das 07h15m. Tinha que cumprir com a partida a partir daqui porque senão não estava a ser fiel ao Lés a Lés.

Alguns km mais frente e ao passar Alvito o contador parcial de km registou 1000 km desde que tinha iniciado em Rio de Onor. Parei para aquela foto da praxe e aproveitei para uma cigarrada ficando a contemplar a MT09 SP. É mesmo bonita o raio da mota.

Agora começava a flectir em direcção ao mar por estradinhas muito boas e, claro, sempre com uma boa paisagem a acompanhar-me. Ou não estivéssemos no Alentejo.

A primeira paragem foi no farol de Cabo Sardão onde mais uma vez parei para registo fotográfico e uma cigarrada.

Depois, bem depois, foi mais uma descida até ao destino com mudança de chip para modo race. Raio da MT09 SP é mesmo uma mota diabólica com comportamento em curva, acelerações e travagem irrepreensíveis.

O que vale é que já conhecia bem toda aquela zona e estradas porque a paisagem pouco me interessou. Mas recomendo vivamente fazer toda esta área calmamente. Tem muita estrada, serra, beira-mar que valem mesmo a visita e passeio. 

Cheguei ao Cabo S. Vicente por volta das 11h00m. Objectivo parcialmente cumprido mas, apesar de tudo, com satisfação total devo confessar.

Como é óbvio aproveitei para o devido registo fotográfico, partilhar o momento com o amigo José Pedro Carvalho e voltar a mota rumo a norte para regressar a casa.

Em Sagres fiz uma paragem para reabastecer e, felizmente, o colaborador da estação de serviço reparou que o meu pneu traseiro estava uma lástima. Em algumas zonas já se viam quase os “arames”. Pois é. É o que dá ter percorrido 1256 km (mais os 200 km do Porto a Bragança) como se fossem os últimos dias da minha vida.

A banda lateral do pneu estava mesmo no limite apresentando já evidentes sinais de desgaste. A banda central uma verdadeira miséria. Era domingo. Tudo fechado. Restavam-me duas opções. Regressar muito devagarinho na esperança que o pneu não entregasse a alma ao criador ou então esperar por segunda-feira e trocar o pneu. Decidi pela primeira opção o que se veio a revelar um verdadeiro suplício pois vim mesmo muito devagar e a parar várias vezes para o pneu não aquecer muito.

Como resumo deste Lés a Lés saliento:

1º A valentia dos participantes em 1999. Foram uns heróis;

2º O traçado escolhido pela organização que é fenomenal e recomendo a todos os motards que o façam;

3º A experiência única que foi para mim. Foi a primeira vez que percorri tantos km seguidos num só dia;

4º O receio inicial, que se veio a revelar infundado, por ter deixado a Super Ténéré em casa e vir fazer este desafio na MT09 SP. No final até acabei por ficar bastante contente por ter escolhido esta mota. É certo que na ST teria um maior conforto, mas confesso que em altura alguma me senti cansado ou com vontade de parar por causa da MT. Bem pelo contrário, com aquele Akrapovi sempre a roncar e o quick shift a destrocar foi uma delícia.

5º A vontade de fazer outros Lés a Lés passados a solo;

6º O contacto com a experiência de viajar a solo. Confesso que foi nesta experiência que comecei a dar um valor especial às viagens a solo. De ser dono de mim mesmo e não ter que me preocupar se está tudo bem lá para trás.

Se voltarei a fazer este Lés a Lés? Claro que sim. Mas da próxima de uma vez só e na companhia da minha ST.

Percurso percorrido – 1615 km

Horas de condução efectiva – 16h34m

Horas em viagem – 24h05m

Altura máxima – 1016 

Mota – Yamaha MT09 SP

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